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Diretório de Empresas
- sexta, 20 julho 2018
Jerónimo Belo Jorge
Hoje é dia de festa na minha terra. Sim, na minha aldeia. Não é a festa da freguesia, mas é mais uma festa na freguesia. É a festa d’Os Esparteiros, uma associação fundada em 1946 e que tem o seu espaço físico, sede e recinto desportivo, ali ao lado da casa da minha família.
A festa, hoje e amanhã, 20 e 21 de Julho, já não tem a intensidade e o calor de outros tempos. Dizem que na década de 60 e 70 era importante. Eu, por mim, tenho memórias da década de 80. Era um puto reguila que queria ajudar os homens que erguiam todos os anos a estrutura da festa, na altura em madeira. Um “coreto” para o conjunto musical. A vedação do dancing.
Sim, ainda me lembro que se pagava para dançar. Os homens compravam a senha para poderem convidar as mulheres para uma dança. Ainda antes da chamada música pimba. Era a música de baile e ligeira. Não faltava a valsa da meia noite, seguida de um tango e depois um passo doble. Nem todos os pares dançavam estas músicas. E todos dançavam de forma diferente.
À volta do dancing um espaço reservado a mesas. Sim, comprava-se o aluguer de uma mesa para uma noite ou para as várias noites. E até uma cadeira extra, se fosse necessário sentar mais do que quatro pessoas. E era ali para a mesa que seguia depois das 23 horas um frango assado. Sim, modo geral, jantava-se em casa e a ceia é que acontecia ali na festa.
Depois havia a quermesse, metade para o reservado e a outra metade para fora. Dos peditórios pela freguesia e pela sede de concelho havia muitos prémios. Todos contribuíam com qualquer coisa. As raparigas passavam dias a fio a enrolar quadradinhos de papel de seda de todas as cores para as rifinhas. Depois havia uma lista de prémios com números. E os números eram escritos no canto de alguns dos papéis quadrados. Era tudo bem misturado num saco enorme e depois as rifas eram colocadas em cestos para serem vendidas. Era uma lixeira o chão à volta da quermesse. Mas havia por ali clientes até bem tarde.
Havia ainda o bar e o restaurante. Tudo estruturas de madeira, balcões de madeira e com cobertura verde. No dia de início da festa um grupo ia ao pinhal para cortar rama de eucalipto. Essa rama fazia a cobertura do bar e dava um cheirinho fantástico. Se juntarmos o junco e o rosmaninho para o chão tínhamos ali um local fresco e com odores muito característicos.
Dias antes da festa as raparigas faziam as bandeirinhas com papel de seda colorido e com os mais variados efeitos: buraquinhos redondos, corações, triângulos e por aí. E algumas faziam uns balões recortados para colocar nos centros de cada linha de bandeirinhas. Os rolos de cordel eram esticados entre os postes de madeira e, no local, um balde de cola feita com farinha e água, coisa tão simples, permitia colar as bandeirinhas.
Depois era simples, pedir aos electricistas de serviço que colocavam as gambiarras com as centenas de lâmpadas incandescentes que fizessem o favor de prender as linhas com as bandeirinhas.
No primeiro dia da festa, quem assumia os bares, logo pela manhã, colocava as garrafas de bebida nos “caldeiros” para onde eram partidas as barras de gelo comprado a quem fornecia as bebidas. Ou seja, um martelo tinha de estar ali sempre à mão. O gelo esse era conservado no meio de serradura que se ia buscar às serrações. Sim, aprendi que a serradura mantém o gelo sólido. Não deixa derreter.
Lembro-me das alvoradas. Às 8 da manhã em ponto, do local da festa o fogueteiro lançava para os céus dezenas de foguetes que estoiravam em sequências certas. Havia vários tipos de bombinhas, mas acaba sempre com um morteiro muito mais forte. O morteiro final. Não havia o loto ou o bingo, não havia os jantares sem ser o frango assado, as bifanas as moelas e os pipis.
Os pacotes de batata frita vendiam-se em quantidades elevadas e as boleiras da terra montavam os tabuleiros à porta da festa para vender as tigeladas, as fatias de torta, os tremoços e os pirolitos de açúcar caramelizado. Nós, os putos, andávamos sempre numa correria a apanhar as garrafas vazias que os adultos mandavam para o chão à espera do Sumol ou do Frisumo. A Coca-cola veio depois.
Tentávamos enganar os porteiros do reservado ou do dancing para jogar à apanhada naqueles locais. Éramos quase sempre “enxotados” para a zona exterior, com muito mais espaço vazio. Adorávamos estar perto de qualquer escaramuça, porque as havia sempre. Queríamos ver de perto, muitas vezes sem noção do perigo.
Mas era sempre um ou dois fins-de-semana de muita animação, de preferência quando ficávamos até tarde. Quando ultrapassava as duas da madrugada. Ou ficar até quase o amanhecer, se o nosso pai fazia parte da festa, se era festeiro, como se designava.
Esta é a minha memória desta festa, d’Os Esparteiros. Não a da foto que ilustra este texto, dos arquivos da associação. Data de 1973, tinha eu um ano de idade.
Mas é uma memória da festa no local onde ainda hoje se realiza, mas sem a sede com a sala de jantar e a cozinha e sem o polidesportivo onde logo à noite se vai dançar. Onde logo à noite se vai beber uma mini. Onde logo à noite vamos ter encontros de pessoas desencontradas pelas vidas que cada um leva.
Hoje e amanhã Os Esparteiros poderão ser um ponto de encontro de mourisquenses e de vizinhos, mesmo que o tempo deste ano não esteja convidativo para grandes noitadas. Casaco na mão e sorrisos para distribuir.
E poderemos fazer a festa. Todos. Hoje e amanhã, seguramente, as festas serão diferentes daquelas da gaveta das memórias, mas tentam cumprir a tradição anual. É a Verbena d’Os Esparteiros. É a Festa. Bom e verbena porquê? Será que nas Mouriscas também apanhavam verbena ou foram a Madrid buscar o nome? Isso dará outro escrito, depois de saber a origem desde nome ali na terra. Por hoje é a festa, é a Verbena.
Até logo, n’Os Esparteiros de Mouriscas.
Jerónimo belo Jorge
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